Médica é sequestrada na Maré por traficantes para salvar chefe do tráfico após confronto

alt mai, 14 2025

Sequestro na UPA: quando salvar vidas vira teste de sobrevivência

A noite de 15 de outubro de 2017 registrou cenas dignas de filme policial no Complexo da Maré, Rio de Janeiro. Cerca de 50 traficantes fortemente armados invadiram a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em busca de atendimento de emergência para Renan Henrique Barbosa Campos, um dos nomes mais temidos do tráfico local, ferido gravemente após um confronto com a polícia. O objetivo era claro: exigir atendimento imediato para tentar salvar um dos seus líderes, colocando em risco a rotina da equipe médica e de todos os presentes.

A equipe médica, acuada sob a ameaça de fuzis, foi obrigada a abandonar tudo. Os criminosos não hesitaram – sequestraram uma médica, embarcaram o próprio Renan, ainda sangrando, numa ambulância roubada e partiram sem qualquer reação, rumo a uma clínica clandestina na Baixada Fluminense. Renan havia levado tiros no braço e na perna e seu estado era crítico. Com medo e sob pressão, a médica sabia: ali não havia escolha, só resta cumprir, tentando preservar duas vidas – a do paciente e a dela mesma.

Nas primeiras horas após o crime, o que se sabia oficialmente vinha das câmeras de segurança. Elas comprovaram a invasão cinematográfica dos traficantes e serviram de base para ampliar as buscas. Enquanto isso, a médica era forçada a operar sob condições precárias. No depoimento posterior à polícia, relata que foi obrigada a indicar a necessidade de amputação do braço do traficante para evitar uma infecção generalizada que poderia matá-lo em poucas horas. Os criminosos queriam tudo para segurar o chefe vivo – a qualquer preço.

Rotina de medo para profissionais da saúde

Rotina de medo para profissionais da saúde

O episódio do sequestro escancarou um drama que faz parte da vida de quem trabalha na saúde pública em regiões conflagradas do Rio. Não foi acidente: a invasão à UPA da Maré mostrou que médicos e enfermeiros podem ser arrastados para situações de alto risco sem qualquer preparo ou proteção. Se a missão é salvar vidas, às vezes o desafio é salvar a sua própria.

A polícia, sob comando do delegado Wellington Vieira, entrou em ação rapidamente. O veículo roubado foi recuperado ainda no mesmo dia. Mas o paradeiro exato da clínica clandestina para onde Renan foi levado permanece um mistério, alimentando o clima de guerra que atravessa os acessos aos morros cariocas. O caso não é isolado, mas se destaca pela brutalidade e pelo poder de fogo usado pelos traficantes, além da clara vulnerabilidade dos profissionais da linha de frente da saúde.

E para quem pensa que esse tipo de episódio é raro, basta conversar com plantonistas e enfermeiros para perceber que a violência, muitas vezes, bate à porta dos hospitais e UPAs. O medo virou sombra inseparável, principalmente quando o relógio marca as horas mais perigosas da cidade. Se para os traficantes a vida de um chefe vale qualquer risco, para quem vestiu branco na UPA da Maré aquela noite virou um divisor de águas na luta diária pela sobrevivência.

19 Comentários

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    Estrela Rosa

    maio 14, 2025 AT 13:46
    Essa médica foi forçada a escolher entre salvar um monstro ou morrer. E ela escolheu salvar. Isso não é heroísmo, é sobrevivência. E ainda tem gente que acha que médico é super-homem sem direito a medo.

    Seu braço, sua vida, sua dignidade - tudo em jogo por um criminoso. E o sistema? Silencioso como sempre.
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    Janaina Jana

    maio 15, 2025 AT 11:34
    Vida na periferia é assim. Sem aviso. Sem proteção. Sem justiça.
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    Lucas Lima

    maio 16, 2025 AT 17:40
    O fenômeno da hipercentralização da violência estrutural nas unidades de saúde públicas é um indicador crítico da falência do pacto social no contexto da urbanização periférica e da ausência de políticas de saúde mental e segurança pública integradas. A invasão da UPA da Maré não é um incidente isolado, mas um sintoma da desintegração do contrato de cuidado entre o Estado e os sujeitos vulneráveis. A médica, nesse cenário, torna-se um agente de mediação forçada entre dois sistemas paralelos de poder: o legal e o ilegal. A amputação, nesse sentido, é uma metáfora da perda de autonomia do profissional de saúde em territórios onde a lei é escrita por pistolas e não por códigos.
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    Dailane Carvalho

    maio 16, 2025 AT 20:06
    Eles sequestraram uma médica. Uma profissional que jurou salvar vidas. E vocês ainda ficam aqui discutindo se é heroísmo ou não? Isso não é drama, é crime. E o Estado que permite isso é cúmplice. Não há justificativa. Não há explicação. Só culpa.
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    Cláudia Pessoa

    maio 18, 2025 AT 05:35
    A gente sabe que isso acontece todo dia mas ninguém fala porque é confortável fingir que não existe
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    Adelson Freire Silva

    maio 19, 2025 AT 16:33
    O cara levou tiro, foi resgatado por um exército de bandidos, e a médica teve que salvar a vida dele como se fosse um paciente normal… e agora? A gente vai pagar por isso com imposto? Porque se o sistema não protege quem cuida, então quem cuida do sistema? 😅💥
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    Lidiane Silva

    maio 20, 2025 AT 13:22
    Eu chorei lendo isso… não por causa do traficante, mas por causa da médica… ela não tinha escolha… e mesmo assim, ela escolheu cuidar… mesmo com medo… mesmo com a arma apontada… isso é amor em estado puro… isso é humanidade em meio ao caos… 🫂💔
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    Joseph Mulhern

    maio 22, 2025 AT 12:09
    Agora vem a pergunta que ninguém quer responder: se o Estado não protege os profissionais de saúde, por que eles ainda vão trabalhar lá? Porque o sistema é feito de pessoas que ainda acreditam que vale a pena… mesmo quando o sistema não acredita neles… e isso é trágico… muito trágico…
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    Michelly Farias

    maio 23, 2025 AT 22:39
    Isso é propaganda do governo para justificar a militarização da saúde. Tudo é manipulação. A polícia não quer prender traficante, quer que a gente acredite que a UPA é um campo de batalha. Eles querem guerra. E nós, os cidadãos, estamos sendo usados como peões.
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    Henrique Sampaio

    maio 24, 2025 AT 06:38
    Acho que o mais triste não é o sequestro, mas o silêncio que vem depois. Ninguém fala sobre o trauma da médica. Ninguém pergunta como ela dorme agora. Ninguém se lembra que ela é uma pessoa, não um instrumento. E isso… isso dói mais do que qualquer tiro.
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    Renato Lourenço

    maio 26, 2025 AT 06:20
    É inaceitável, inadmissível e inegavelmente repugnante que um profissional da saúde, vestido com o símbolo da ética e da ciência, seja submetido a coerção sob a ameaça de armas de fogo em uma unidade de saúde pública, cuja função primordial é a preservação da vida, e não a execução de exigências criminosas. Tal ato representa uma violação absoluta do direito internacional humanitário e da deontologia médica.
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    Bruno Leandro de Macedo

    maio 26, 2025 AT 19:21
    Então o traficante foi salvo por uma médica… e agora ele tá lá, com braço amputado, provavelmente mandando mensagem no WhatsApp: 'vamo botar mais um posto na Maré?' 😂💀 #MedicinaÉGuerra
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    lu garcia

    maio 26, 2025 AT 19:42
    Eu não sei se consigo trabalhar na saúde depois de saber disso… mas se eu fosse médica, eu faria o mesmo… porque salvar vidas não é escolha… é o que a gente é… 💪❤️
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    felipe kretzmann

    maio 27, 2025 AT 03:44
    Essa médica é uma idiota. Ela deveria ter deixado ele morrer. Um criminoso não merece ser salvo por um cidadão que paga imposto. Se ele quiser ser salvo, que pague por isso. Não é com a vida de uma mulher que se resolve isso.
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    Junior Lima

    maio 28, 2025 AT 04:28
    Acho que todo mundo deveria ver isso antes de reclamar de fila no SUS. Ninguém pensa no que esses profissionais enfrentam… e ainda tem gente que acha que médico é só 'atender e cobrar'…
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    Leticia Mbaisa

    maio 29, 2025 AT 16:09
    Eles levaram a ambulância. Ela levou a coragem.
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    Luis Silva

    maio 30, 2025 AT 00:52
    Você acha que isso é raro? Tente passar uma noite em uma UPA da Zona Oeste. Depois me fala se ainda acha que é só um caso isolado.
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    Rodrigo Neves

    maio 30, 2025 AT 03:28
    A tragédia não é o sequestro. A tragédia é que ninguém se surpreende mais. E isso é o pior de tudo.
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    Talita Resort

    maio 30, 2025 AT 08:30
    Talvez o que a gente precise não seja mais leis… mas mais pessoas dispostas a ver o outro como humano… mesmo quando ele é um bandido… mesmo quando ela é uma médica… mesmo quando todos estão com medo…

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