Quando Daniel Vorcaro tentou embarcar com a família para Dubai no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, na noite de 17 de novembro de 2025, ele não estava fugindo de um feriado — estava tentando escapar de uma das maiores fraudes já descobertas no sistema financeiro brasileiro. A Polícia Federal o deteve na Operação Compliance Zero, que desmontou um esquema de R$ 12 bilhões movido por títulos falsos, mentiras estruturadas e uma rede de empresas fantasma. O presidente do Banco Master, de 48 anos, não tinha dinheiro para pagar os certificados que emitiu. Só tinha histórias. E elas acabaram.
Como o Banco Central desvendou o esquema
O rastro começou em 2023, quando o Banco Central do Brasil notou algo estranho: o Banco Master estava oferecendo CDBs com juros até 25% acima da média do mercado. Nada errado em si — mas quando os volumes saltaram para R$ 50 bilhões em emissões em 2025, o alarme disparou. O banco não tinha ativos suficientes para cobrir esses compromissos. E ainda assim, continuava atraindo milhares de pequenos investidores com promessas de retorno garantido. A quebra da máscara veio em outubro de 2025, quando Vorcaro tentou vender o banco ao Banco de Brasília (BRB) por R$ 2 bilhões. Os auditores do BRB, ao examinar a carteira de crédito, encontraram um vazio. Os ativos que Vorcaro apresentava como garantia — supostamente comprados da empresa Tirreno Promotoria de Crédito — não existiam. Nem os contratos, nem os pagamentos, nem os devedores reais. O que havia eram planilhas criadas em Excel, assinaturas falsas e nomes inventados.A teia de mentiras: de Bahia a Brasília
Vorcaro mudou sua versão três vezes. Primeiro, disse que os créditos vinham de duas associações de servidores públicos da Bahia: a Asteba e a Asseba. Depois, afirmou que eram contratos com pessoas físicas de outros estados. Por fim, apontou a Tirreno como fonte. O Banco Central cruzou os dados com o BRB e descobriu algo ainda mais grave: todos os supostos créditos intermediados pela Tirreno foram assinados por correspondentes da Cartos — uma empresa que, segundo registros, nem existia como entidade legal. Era uma fachada dentro de outra fachada.Quem mais foi preso e o que foi apreendido
A Operação Compliance Zero não parou em Vorcaro. Foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária e 25 mandados de busca e apreensão em cinco estados. Além dele, foram detidos:- Augusto Lima, sócio-fundador do Banco Master, 52 anos, de Belo Horizonte
- Paulo Henrique Costa, diretor do BRB, 45 anos, de Brasília — o único funcionário de um banco comprador envolvido
- Luiz Antônio Bull, diretor financeiro do Master, 58 anos
- Alberto Felix de Oliveira Neto, diretor de operações, 54 anos
Na sede do Banco Master, em São Paulo, apreenderam 17 computadores, 12 servidores, 83 notebooks e mais de 200 pastas de documentos com registros manipulados. O Ministério Público Federal chamou o caso de “um dos maiores crimes contra o sistema financeiro já documentados”. A Polícia Federal, por sua vez, descreveu o banco como “uma organização criminosa disfarçada de instituição financeira”.
O dinheiro foi para onde?
O dinheiro dos CDBs não foi aplicado em empréstimos, imóveis ou títulos seguros. Segundo o economista sênior do Banco Central, Dr. Marcelo Fernandes, em entrevista coletiva em 23 de novembro, boa parte foi “usada em apostas arriscadas em empresas frágeis e endividadas”. Em alguns casos, os ativos comprados “sequer existiam”. Outra parte foi usada para financiar estilo de vida luxuoso: imóveis em Miami, carros importados e viagens internacionais da família. O próprio Vorcaro viajava com frequência — e sempre com passagens de primeira classe.Justiça mantém prisão — e a defesa recorre
Em 27 de novembro, a desembargadora Solange Salgado da Silva, do TRF-1, rejeitou o pedido de liberdade, dizendo que “há fortes indícios de que a organização criminosa se manteve em plena atividade”. A defesa, liderada por Cristiano Zanin Martins, argumentou que Vorcaro corre risco de morte na prisão por problemas cardíacos — e pediu tornozeleira eletrônica. O STJ negou o recurso no mesmo dia. Na carta lida por seu advogado, Vorcaro afirmou ser “alvo de perseguição” e prometeu “provar que não cometeu crime algum”.Enquanto isso, mais de 80 mil pequenos investidores — muitos aposentados e trabalhadores que confiaram suas economias no Banco Master — aguardam ansiosos por respostas. O FGC (Fundo Garantidor de Créditos) já anunciou que não cobrirá os CDBs emitidos pelo banco, pois os títulos foram fraudulentos. O prejuízo real pode ultrapassar R$ 15 bilhões quando incluídos juros, multas e custas.
O que vem a seguir?
O processo será julgado na Justiça Federal do Distrito Federal. Vorcaro e os demais réus respondem por gestão fraudulenta, organização criminosa, falsidade ideológica e crimes contra o sistema financeiro — com pena máxima de 20 anos. O BRB, por sua vez, está em processo de recuperação judicial e já perdeu R$ 1,2 bilhão em pagamentos antecipados. O Banco Central anunciou novas regras para auditoria de CDBs e exigirá, a partir de 2026, a verificação em tempo real das origens dos ativos negociados por bancos menores.Isso tudo aconteceu porque alguém acreditou que uma instituição financeira poderia crescer sem ativos reais. Mas o sistema financeiro não é um jogo de cartas. É um edifício de confiança. E quando a base desmorona, todos sentem o tremor.
Frequently Asked Questions
Como o Banco Central descobriu que os CDBs do Banco Master eram fraudulentos?
O Banco Central identificou padrões suspeitos desde 2023, com CDBs oferecendo juros 25% acima da média. Mas a confirmação veio em outubro de 2025, quando o BRB, ao tentar comprar os ativos do Master, descobriu que os créditos supostamente adquiridos da Tirreno não tinham origem real. O cruzamento de dados revelou que os contratos foram criados com base em empresas fantasma e correspondentes bancários inexistentes.
Quem são os principais envolvidos além de Daniel Vorcaro?
Além de Vorcaro, foram presos o sócio-fundador Augusto Lima, o diretor do BRB Paulo Henrique Costa, o diretor financeiro Luiz Antônio Bull e o diretor de operações Alberto Felix. Todos tinham funções-chave na criação e execução do esquema. A PF e o MPF apontam que havia uma estrutura hierárquica clara dentro do banco, com divisão de tarefas entre criação de documentos, manipulação de contas e engano aos auditores.
O que acontece com os pequenos investidores que aplicaram no Banco Master?
Os cerca de 80 mil pequenos investidores não terão seus depósitos garantidos pelo FGC, pois os títulos foram emitidos fraudulentamente. O Ministério Público está buscando apreender bens dos acusados para reembolsar parte dos prejudicados, mas a expectativa é de que apenas 15% a 20% do valor aplicado seja recuperado. Muitos aposentados perderam economias de décadas.
Por que o BRB foi envolvido nesse caso?
O BRB não participou da fraude intencionalmente, mas foi enganado ao comprar ativos que acreditava serem reais. O diretor Paulo Henrique Costa foi preso por suspeita de negligência grave e por não realizar as devidas auditorias antes da operação. O banco agora enfrenta uma crise de confiança e está em processo de recuperação judicial, com perdas estimadas em R$ 1,2 bilhão.
Quais mudanças o Banco Central vai implementar após esse caso?
A partir de 2026, o BC exigirá verificação em tempo real da origem dos ativos negociados por bancos menores, especialmente CDBs. Também será obrigatória a transparência dos correspondentes bancários e a auditoria independente das empresas que intermediam créditos. O objetivo é evitar que fraudes como a do Master voltem a acontecer, especialmente em instituições com pouca supervisão.
Existe risco de outras instituições financeiras estarem envolvidas em esquemas semelhantes?
Sim. O caso do Banco Master expôs falhas estruturais na fiscalização de instituições menores, que operam com menos transparência. O BC já iniciou uma varredura em 12 bancos regionais com perfis semelhantes — juros altos, crescimento rápido e pouca divulgação de balanços. Ainda não há confirmação de fraudes, mas a investigação está em andamento e pode resultar em novas prisões.
Nathalia Singer
novembro 30, 2025 AT 18:12O pior é que isso não é isolado. Já vi tantos casos assim, onde o povo simples acredita em juros altos demais pra ser verdade. E quando cai o tapete, perde tudo. O Banco Central demorou demais pra agir, e agora os aposentados estão no desespero. Ninguém merece.
Giovanni Cristiano
dezembro 2, 2025 AT 11:52Esses ladrãozinho brasileiro sempre acha que vai escapar. Faz fraude, compra mansão nos EUA e acha que o mundo gira pra eles. Prendam todos e joguem a chave no mar. Brasil não é para bandido.