Quando Odete Roitman, personagem da novela Vale TudoRio de Janeiro, foi brutalmente assassinada na véspera de Natal de 1988, o Brasil inteiro ficou de olho na tela. A cena, encenada por Beatriz Segall, atriz, gerou um frenesi que poucas produções conseguiram reproduzir.
Agora, Manuela Dias, roteirista, está à frente do tão aguardado remake da novela, lançado pela Rede Globo em 2025. Ela já revelou que o culpado da nova trama será outro, prometendo mexer ainda mais com a curiosidade da plateia.
O fenômeno original: como um crime fictício virou assunto nacional
Voltemos ao fim de 1988. O suspense sobre "Quem matou Odete Roitman?" durou apenas 11 dias, mas foi intenso demais para caber só nos televisores. Em cada bar, cada reunião de família, o nome de Odete ecoava como um enigma a ser decifrado.
Para provar o quanto o público estava envolvido, a Globo organizou um concurso oficial. Quase 2,5 milhões de cartas foram enviadas, registrando palpites que iam de César Ribeiro (interpretado por Carlos Alberto Riccelli) a Marco Aurélio (Reginaldo Faria) e Eugênio (Sérgio Mamberti). O voto mais popular apontou para Eugênio, mas a verdade era outra.
A revelação: a assassina era Leila, personagem vivida por Cássia Kis. Apenas 5 % dos participantes acertaram. A diferença entre suspeita e culpa deixou o país inteiro falando sobre "Vale Tudo" por meses.
Por que o mistério ainda fascina?
Alguns fatores ajudam a entender a força do caso. Primeiro, a narrativa inseriu uma confissão falsa: Raquel, outra personagem, admitiu ter matado Odete sem ter realmente cometido o crime. Essa camada extra de engano aumentou a sensação de que qualquer um poderia ser o culpado.
Depois, a própria estrutura da novela – capítulos diários, cliffhangers bem colocados – transformou o mistério em um hábito matinal. Era quase como seguir um reality show, mas com drama escrito.
E tem o aspecto cultural: em 1988, poucos meios de comunicação eram tão onipresentes quanto a televisão. Quando algo acontecia nas telinhas, toda a sociedade sentia. O caso de Odete acabou sendo referência para discussões sobre imprensa, poder e classe social – temas que ainda ressoam hoje.

O remake de 2025: o que mudou?
Manuela Dias decidiu não simplesmente reciclar a história. Ela quer que o público se pergunte novamente "Quem matou Odete?", mas com pistas diferentes.
- Nova linha do tempo: a trama começa em 2024, focando nas redes sociais como palco de boatos.
- Personagens revisitados: Beatriz Segall, que já faleceu, foi homenageada através de flashbacks; a nova Odete é interpretada por Mariana Ximenes, trazendo uma camada de modernidade.
- Assassinato diferente: sem spoilers, o culpado será alguém que nem aparece na versão de 1988, criando um ponto de ruptura entre gerações.
Além disso, a Globo está usando plataformas de streaming para lançar pistas exclusivas, algo que não existia na era dos telefax.
Reações do público e da crítica
Os primeiros trailers já geraram polêmica nas redes. Muitos fãs nostálgicos defendem que a surpresa original nunca deve ser alterada, enquanto jovens espectadores elogiam a ousadia de mudar o assassino.
Críticos de TV, como Fernando Mollo do Jornal da Globo, apontam que o remake tem a chance de provar que "Vale Tudo" ainda tem relevância social, especialmente ao abordar temas como fake news e justiça digital.
Por outro lado, estudantes de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) organizaram debates sobre o impacto cultural de reenquadrar um clássico. Um dos grupos, liderado por Ana Paula Mendes, destacou que o mistério original serviu como uma espécie de "laboratório" de cidadania mediática.

Impacto esperado e próximos passos
Se tudo correr como o previsto, o reformulado "Vale Tudo" pode gerar um novo boom de interatividade: enquetes em tempo real, aplicativos que permitem que o telespectador vote em suspeitos, e até mesmo um concurso nacional de teorias, lembrando o de 1988.
A Globo já anunciou que vai analisar os resultados das interações para decidir se lança uma segunda temporada antes mesmo de encerrar a primeira.
É um experimento de mídia que pode mudar a forma como novelas são produzidas no Brasil. O que antes era um evento linear agora pode se tornar um diálogo constante entre criadores e audiência.
Perguntas Frequentes
Como o remake de "Vale Tudo" pretende envolver o público jovem?
A produção usará plataformas de streaming e redes sociais para lançar pistas exclusivas, enquetes ao vivo e um aplicativo de teorias que permite que os espectadores votem em suspeitos, criando uma experiência interativa similar a jogos de investigação.
Qual foi a diferença entre o assassino da versão original e o da nova versão?
Na versão de 1988 a assassina era Leila, interpretada por Cássia Kis. O remake, segundo a autora Manuela Dias, apresenta um culpado totalmente novo, ainda não revelado, que nem aparece na trama clássica.
Quantas cartas a Globo recebeu no concurso de 1988?
Quase 2,5 milhões de cartas foram enviadas pelos telespectadores, tornando o concurso um dos maiores da história da televisão brasileira.
Por que a confissão falsa de Raquel foi importante para o mistério?
Ao alegar que havia matado Odete, Raquel adicionou uma camada de engano que confundiu tanto os personagens quanto o público, amplificando a sensação de que qualquer um poderia ser o culpado.
Qual o papel da Rede Globo no ressurgimento do mistério?
A emissora está reinvestindo na história ao produzir o remake, lançar campanhas interativas e criar concursos semelhantes ao de 1988, demonstrando o poder de mobilização da TV nacional.
Rafaela Antunes
outubro 6, 2025 AT 20:53esse remake vai ser o maximo
Marcus S.
outubro 7, 2025 AT 13:33É inegável que a reinterpretação de um clássico exige rigor metodológico. A proposta de Manuela Dias, ao transpor a narrativa para o universo digital, reflete uma consciência histórica profunda. Contudo, devemos ponderar se a mudança de assassino não dilui a essência da crítica social original. Em síntese, a iniciativa é audaciosa, mas carece de avaliação crítica substancial.