R$ 70 mil em prêmios e a tradição campeira em pista cheia: o CTG Chaleira Preta abriu as celebrações do Dia do Gaúcho com programação que começou na quinta, 19, e segue durante todo o fim de semana. A agenda combina gastronomia típica, apresentações artísticas e provas campeiras, com o 13º Rodeio Crioulo como ponto alto no Parque de Rodeios do CTG Fogo de Chão, atraindo laçadores, ginetes e famílias de toda a região.
Vinculado ao Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), o Chaleira Preta mantém núcleos Artístico, Cultural e Rural, uma estrutura que dá conta do essencial: preservar, ensinar e praticar as tradições do Rio Grande do Sul. A casa abriu os festejos com almoço de costelão no fogo de chão e música ao vivo, em clima de galpão — mate passando de mão em mão, fandango ao cair da tarde e aquela conversa boa que costura gerações.
O evento não é apenas uma festa: é calendário afetivo para quem cresceu entre cavalo, encilha e lenço no pescoço. Ao reunir apresentações de invernadas, declamação e chula ao lado das provas campeiras, o CTG reforça um traço que distingue a cultura gaúcha: arte e lida de campo no mesmo palco, sem separar o que nasceu junto.
Rodeio crioulo, pista cheia e R$ 70 mil em disputa
No fim de semana, os olhos se voltam para o 13º Rodeio Crioulo. As provas devem mobilizar equipes de laço, duplas e quartetos, além de modalidades individuais. É a hora de ver técnica e parceria entre cavalo e cavaleiro em ação: laço preciso, galope no tempo certo, manejo das armadas e leitura da cancha. A gineteada, quando programada, costuma prender a atenção pela coragem do peão e pela altivez do animal. Tudo com narração que levanta a arquibancada.
Com prêmio somando R$ 70 mil, a competição atrai competidores experientes e novos talentos. Caravanas de CTGs da região marcam presença, reforçando o intercâmbio que mantém o circuito vivo. A organização trabalha para fazer a roda girar sem atropelo: pista revisada, cronograma de entradas por equipe e bretes preparados para garantir fluidez entre uma armada e outra.
- Provas campeiras: tiro de laço em diferentes categorias, incluindo disputas por equipes e individuais.
- Apresentações artísticas: invernadas de diferentes faixas etárias, com danças de salão e de salão de raiz, chula e declamação.
- Gastronomia: costelão no fogo de chão, churrasco, carreteiro e pastel de galpão, além da roda de chimarrão que nunca esfria.
- Convivência: rodas de prosa sobre história e indumentária, registro de prendas e peões e espaço para crianças com brincadeiras tradicionais.
Famílias costumam acompanhar de perto as provas mirins — a famosa vaca parada e atividades de iniciação ao laço dão segurança para quem está começando. É a porta de entrada para a piazada se apaixonar pela cancha, respeitando regras e aprendendo a cuidar do cavalo desde cedo.
O debate sobre bem-estar animal também está presente nos rodeios crioulos. Em todo o estado, eventos reforçam vistorias veterinárias, atenção às condições de pista e limites de esforço. A cultura campeira evolui com esses cuidados, sem abrir mão do que a torna única: a relação de parceria entre peão e cavalo.
Por que o 20 de setembro ainda mobiliza o Rio Grande
O 20 de setembro marca a memória da Revolução Farroupilha e, com ela, símbolos que atravessaram séculos: a chama crioula, o lenço no pescoço, o respeito ao cavalo, a música de galpão e a mesa farta. Na prática, o mês farroupilha vira sala de aula ao ar livre. CTGs, escolas e grupos culturais repetem gestos antigos e explicam o porquê de cada um — do acento do carreteiro ao nó do lenço, do sapateado da chula à marcación da vanera.
Centros de Tradições Gaúchas surgiram para organizar essa memória, evitando que virasse lembrança difusa. No Chaleira Preta, a divisão Cultural cuida da pesquisa e do registro; a Artística ensina dança e música; a Rural mantém viva a lida campeira. Essa engrenagem permite que a tradição se mantenha contemporânea: crianças e jovens aprendem a mesma dança que seus avós, mas com didática atual, ensaio regular e calendário de apresentações.
Além do valor simbólico, o evento mexe com a economia local. Comerciante prepara o espeto extra; costureiras ajustam bombachas e vestidos; selarias fazem manutenção de arreios; o parque de rodeios ganha nova vida com público circulando. É emprego temporário, renda para quem trabalha com alimentação e artesanato, e visibilidade para artistas regionais.
Para quem planeja ir ao parque do CTG Fogo de Chão, a dica é simples: chegue cedo para garantir bom lugar na arquibancada, leve cuia, água e protetor solar, e vista roupa confortável. Em eventos ao ar livre, a mudança de tempo manda no roteiro — casaco leve na mochila poupa incômodo. Competidores devem checar horários de credenciamento, revisão de animais e regulamentos de pista.
O brilho do costelão, a trilha sonora de gaita e violão, a vibração a cada armada bem-sucedida e o respeito por quem monta e por quem aplaude. É esse conjunto que faz do 20 de setembro uma data que não se repete igual: todo ano muda a história, mas o sentido permanece. No CTG Chaleira Preta, tradição e competição caminham lado a lado — e é justamente isso que mantém a cultura gaúcha pulsando.
Janaina Jana
setembro 21, 2025 AT 12:56Lucas Lima
setembro 22, 2025 AT 04:06É imprescindível reconhecer que o CTG Chaleira Preta, enquanto instituição hegemônica dentro do ecossistema tradicionalista gaúcho, opera como um nodo de reprodução simbólica da identidade campeira, integrando de forma dialética os eixos cultural, artístico e rural - o que, em termos antropológicos, configura um fenômeno de resistência cultural contra a homogeneização neoliberal. A presença de invernadas intergeracionais, a manutenção da chula como forma de expressão lírica e a estruturação das provas campeiras sob parâmetros rigorosos de segurança e ética animal demonstram uma sofisticada engrenagem de memória performática, onde a tradição não é mera reconstituição, mas uma prática viva e adaptativa. O R$ 70 mil em prêmios, longe de ser uma mercantilização, é um mecanismo de valorização econômica que sustenta a cadeia produtiva local: selarias, costureiras, produtores de carne e artesãos de arreios. Isso é cultura como economia circular, não como espetáculo.
Dailane Carvalho
setembro 23, 2025 AT 14:18Isso tudo é uma farsa. O que vocês chamam de tradição é só um show para turistas. O cavalo não é um brinquedo, e essas provas não são esporte - são tortura disfarçada de folclore. E ainda tem gente que fala em 'parceria' entre homem e animal? O cavalo é forçado, assustado, levado para pista sem preparo adequado. E vocês acham que o 'lenço no pescoço' justifica isso? Não é tradição, é crueldade com disfarce cultural. E ainda querem dinheiro público? Não me venham com essa de 'economia local' - isso é lucro em cima de sofrimento animal. E o pior: vocês ainda se acham superiores por usarem bombacha.
Cláudia Pessoa
setembro 24, 2025 AT 01:42Adelson Freire Silva
setembro 26, 2025 AT 00:03Então o R$70 mil é pra quem? Pro peão que tá com o pé no chão e o coração na cancha? Ou pro empresário que tá alugando o galpão e vendendo chimarrão com preço de evento de luxo? A tradição tá virando reality show com som de funk e fritura de pastel de galpão. Eles chamam de 'cuidado animal' mas o cavalo ainda leva esporas e a gente finge que não vê. O lenço no pescoço? Tá mais pra acessório de Instagram do que símbolo de resistência. Mas sério, quem escreveu esse texto? Um publicitário que nunca montou em um cavalo? O verdadeiro gaúcho não precisa de prêmio pra se orgulhar - ele precisa de terra, de respeito e de um bom mate sem açúcar.
Lidiane Silva
setembro 27, 2025 AT 15:56Ohhh, que lindo ver toda essa energia! 🌞❤️ O fogo de chão, o cheiro do costelão, o som da gaita no fim da tarde... isso é o que nos mantém vivos, gente! Cada criança que aprende a laçar, cada avó que canta a chula, cada galpão cheio de riso e memória... isso é magia pura! E o cuidado com os animais? É tão lindo ver como os CTGs evoluíram, com vistorias, horários respeitados, e o amor que os peões têm pelos cavalos - isso não tem preço! Obrigada, Chaleira Preta, por manter viva a alma do Rio Grande! Eu estarei lá no domingo, com a minha cuia, o meu casaco e o coração cheio de saudade e alegria! 🤠💕
Joseph Mulhern
setembro 27, 2025 AT 20:28É interessante observar como a narrativa dominante romantiza a tradição enquanto ignora as estruturas de poder subjacentes - o MTG, por exemplo, historicamente foi elitizado, e hoje ele se apresenta como um movimento popular quando na verdade é uma máquina de reprodução simbólica controlada por uma classe média urbana que tem tempo e recursos para frequentar CTGs. A ‘inclusão’ das crianças? É um discurso de legitimação. O que acontece com os jovens das periferias que nunca tiveram acesso a um cavalo? E os prêmios? São financiados por quem? Por empresas que exploram o rural? A tradição não é neutra - ela é política. E vocês estão celebrando um sistema que marginaliza quem não tem sangue gaúcho, dinheiro ou nome na lista.
Michelly Farias
setembro 29, 2025 AT 14:24Isso aqui é uma armadilha. O governo está usando o Dia do Gaúcho para esconder o que está acontecendo no sul. Enquanto vocês celebram costelão e rodeio, eles estão vendendo a terra para grileiros, desmatando o pampa e colocando agrotóxicos no chimarrão. O CTG é só um espetáculo para distrair vocês. O que vocês acham que acontece com os cavalos depois do rodeio? Eles não vão para o abatedouro? E os prêmios? São dinheiro sujo de políticos que querem voto rural. Não se deixem enganar. A tradição não está morrendo - ela está sendo roubada. E vocês estão aplaudindo os ladrões.
Henrique Sampaio
outubro 1, 2025 AT 09:31Reconheço que os comentários aqui estão bem divididos - e isso é saudável. Mas o que importa mesmo é que o Chaleira Preta, mesmo com todas as críticas legítimas, está fazendo algo que poucos fazem: reunindo gente. De todas as idades, de todos os lugares, com um único propósito: lembrar e viver. Não é perfeito? Não. Mas é real. A tradição não é um museu. É um diálogo. E esse diálogo está acontecendo. A criança que aprende a laçar hoje vai ser o adulto que exige melhores práticas amanhã. O cavalo que hoje é vistoriado é o mesmo que ontem era só força. E o costelão? É só comida. Mas é nesse cheiro, nesse fogo, nessa roda, que a gente se reconhece. Não precisamos de ideologias puras. Precisamos de espaço para sermos nós - com tudo o que somos, com tudo o que erramos, e com tudo o que ainda podemos aprender.