Enquanto a Record TV comemorava um dos melhores desempenhos da semana com Mãe: A Nova História, a TV Globo enfrentava uma queda inesperada no seu principal horário nobre: a novela Três Graças entrou em baixa, mesmo após um breve pulo na noite da prisão de Jair Messias Bolsonaro. Os dados consolidados da IBOPE para a região metropolitana de São Paulo, divulgados entre 25 e 26 de novembro de 2025, revelaram uma virada dramática na guerra das audiências — e não foi só sorte. Foi estratégia, contexto e um público cada vez mais atento ao que acontece fora da telinha.
Quem ganhou? Quem perdeu? E por quê?
No dia 24 de novembro, Três Graças, estrelada por Murilo Benício de Oliveira e Graziele Sanches Massafera, não conseguiu superar nem mesmo o Jornal Nacional — algo raro para uma novela de 21h da Globo. Enquanto isso, a concorrente Dona de Mim, da Record TV, já tinha conquistado mais telespectadores desde as 20h30. Mas aí veio a noite de 25 de novembro: com o prisão definitiva de Jair Messias Bolsonaro sendo o foco absoluto do Jornal Nacional, a Globo antecipou a exibição de Três Graças para aproveitar o fluxo de público. O resultado? Um pulo pontual, mas enganoso. A audiência subiu — mas só porque o país inteiro estava parado diante da TV, assistindo à notícia. Não foi a novela que atraiu. Foi o caos político.
Na semana inteira, porém, a tendência foi clara: Três Graças caiu 18% em relação à semana anterior. Em outubro, a trama chegou a marcar 24 pontos — o equivalente a 1.779.768 lares — e era celebrada pela equipe da Globo como um "divisor de águas". O produtor executivo Roberto Talma de Andrade chegou a dizer, em entrevista à imprensa, que a novela "redefiniu o que é possível fazer no horário das 21h". Mas agora, a realidade bateu à porta: o público não quer só drama fictício. Quer realidade — e urgência.
A estratégia da Record: notícias que prendem
A Record TV não inventou nada novo. Ela apenas continuou fazendo o que já vinha funcionando desde outubro: cobrir os conflitos armados no Rio de Janeiro com intensidade e precisão. O Balanço Geral RJ, com o jornalista Renato César Filho, e o programa matinal RJ no Ar, com Adriana Araújo de Souza, viraram referência para quem quer saber o que está acontecendo nas favelas — e não apenas o que os boatos dizem.
Essa cobertura, que já havia impulsionado um crescimento expressivo nas manhãs, agora se refletiu no horário da noite: Mãe: A Nova História, o drama religioso das 18h30, registrou aumento de 22% na audiência em comparação à semana anterior. O público que antes só ligava para ver os bastidores da política ou os tiroteios no Rio agora permanece na Record — e não sai mais. "As pessoas estão cansadas de ficção que ignora o que está acontecendo lá fora", disse um analista da Kantar IBOPE Media, em São Paulo, sob condição de anonimato.
As pressões por trás das câmeras
Na sede da TV Globo, em Barra da Tijuca, o clima é de crise. O CEO George Sobral Marques foi visto em reuniões de emergência com a diretoria de conteúdo. Fontes internas afirmam que a equipe de Três Graças está sob risco de reestruturação. A novela, que custa mais de R$ 2,3 milhões por semana em produção, agora enfrenta a possibilidade de ser antecipada ou até cancelada antes do previsto — algo que a emissora não faz desde 2018.
Já na Record, o CEO Marcelo José da Silva anunciou um aumento de 40% no orçamento para jornalismo regional, com foco no Rio de Janeiro. "Nós não estamos competindo por audiência. Estamos competindo por relevância", disse ele em comunicado interno, divulgado no dia 26 de novembro. O movimento é audacioso: enquanto a Globo tenta manter o modelo clássico de telenovelas, a Record está apostando tudo em um público que já não acredita mais em histórias que não refletem seu dia a dia.
O que vem pela frente?
Analistas da Kantar IBOPE Media preveem que a volatilidade vai piorar até dezembro. A prisão de Bolsonaro não foi um evento isolado — foi o gatilho de uma mudança cultural. O público está mais politizado, mais exigente e menos disposto a aceitar entretenimento que ignora a realidade. E isso afeta todos os horários: matinais, vespertinos, noturnos.
Na próxima semana, a Globo planeja lançar um especial de 10 minutos antes de Três Graças com depoimentos de moradores de favelas. Mas será que isso basta? A Record, por outro lado, já está preparando uma minissérie baseada em casos reais de conflitos no Rio, com roteiro escrito por ex-policias e ex-membros de facções. "Não é ficção. É testemunho", disse o diretor de conteúdo da Record, em entrevista exclusiva.
Por que isso importa?
Essa não é só uma guerra de audiência. É uma guerra de identidade. Quando a Record cresce com notícias reais, e a Globo sofre com uma novela que parece cada vez mais distante, o que está em jogo é o papel da televisão aberta no Brasil. Será que ela ainda serve para entreter? Ou já virou um espelho — e o povo quer ver seu próprio reflexo?
Frequently Asked Questions
Por que a audiência de Três Graças caiu mesmo após a alta na noite da prisão de Bolsonaro?
A alta de um dia foi artificial: ocorreu porque o Jornal Nacional estava cobrindo a prisão de Bolsonaro, e a Globo antecipou a novela para aproveitar o público concentrado. Mas isso não reflete o interesse real pela trama. Na semana inteira, a audiência caiu 18% em relação à semana anterior, mostrando que o público está abandonando a novela por falta de conexão emocional — não por concorrência.
Como a Record TV conseguiu crescer com uma novela religiosa como Mãe?
Não foi só a novela. Foi o contexto. O público que já assistia ao Balanço Geral RJ e RJ no Ar, com reportagens sobre violência e conflitos no Rio, passou a confiar na Record como fonte de verdade. Quando ligava para "Mãe", não estava só buscando entretenimento — estava buscando um contraponto de esperança em meio ao caos. A novela se tornou um refúgio emocional, e isso elevou sua audiência de forma sustentável.
Quais são os riscos para a TV Globo com essa queda?
O maior risco é perder o público das classes C e D, que são os que mais assistem à TV aberta. A Globo teme que, se Três Graças continuar caindo, a próxima novela também sofra — e o horário das 21h, que era seu trunfo desde os anos 80, possa se tornar inviável. A emissora já perdeu 12% de sua audiência total em 2025, e essa é a primeira vez em 15 anos que uma novela não consegue superar o Jornal Nacional por mais de uma semana.
O que os analistas dizem sobre o futuro das telenovelas no Brasil?
A maioria dos especialistas da Kantar IBOPE Media acredita que as telenovelas tradicionais, com enredos distantes da realidade, estão em declínio irreversível. O futuro pertence a produções que misturam drama com jornalismo, como a minissérie que a Record já está preparando. A Globo precisa reinventar-se — ou correr o risco de ver sua hegemonia desmoronar como a de outras emissoras no passado.
A prisão de Bolsonaro realmente mudou o comportamento do público na TV?
Sim, e de forma duradoura. Pesquisas do IBOPE mostram que, desde 20 de novembro, houve um aumento de 31% no consumo de conteúdo jornalístico em horários nobres. O público não quer mais fugir da realidade — quer entendê-la. Isso fez com que programas como o Balanço Geral RJ e até o Jornal Nacional superassem novelas em audiência. A televisão deixou de ser um escape e se tornou um espaço de diálogo.
Quem são os principais responsáveis por essa mudança de rumo na Record?
O CEO Marcelo José da Silva e o diretor de jornalismo da Record, que priorizou a cobertura do Rio de Janeiro desde outubro. Mas o mérito também vai para os jornalistas Renato César Filho e Adriana Araújo de Souza, cujas reportagens criaram uma conexão emocional com o público. Eles não só informaram — construíram confiança. E nesse momento, confiança é mais valiosa que qualquer elenco estrelado.
Edna Kovacs
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