Ambipar garante 30 dias de proteção judicial e tenta evitar colapso financeiro

alt set, 26 2025

A Ambipar, referência nacional em gestão ambiental, recebeu ontem a autorização do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para ficar 30 dias sob proteção judicial. A decisão, assinada pelo juiz Leonardo Castro de Gomes, impede que credores cobrem dívidas de forma acelerada ou acionem garantias que poderiam levar a empresa à falência.

Como funciona a proteção judicial e por que a Ambipar recorreu

Na prática, a medida congela cláusulas contratuais que permitem a antecipação de pagamentos e a execução de garantias. Essa pausa dá à companhia tempo para reorganizar suas finanças sem a pressão de execuções imediatas. A Ambipar entrou com o pedido de pré-recuperação judicial ao apontar um risco de “buraco” de R$ 10 bilhões em seu caixa, resultado de perdas ligadas a derivativos de green bonds.

Os derivativos, usados para proteger investimentos em títulos verdes, tiveram desdobramentos negativos. Segundo a empresa, os contratos continham cláusulas de cross‑default que poderiam disparar obrigações em toda a estrutura de dívida, ampliando o problema de forma exponencial.

Conflito com o Deutsche Bank e a escalada da dívida

Um dos pontos críticos da disputa envolve um empréstimo de US$ 35 milhões firmado com o Deutsche Bank. O banco passou a exigir garantias adicionais que, segundo a Ambipar, não têm respaldo nos contratos originais. Essa exigência teria drenado mais de R$ 200 milhões do caixa em poucos dias.

Além do empréstimo citado, a exposição total da Ambipar ao Deutsche Bank já ultrapassa US$ 550 milhões. A pressão do banco fez com que algumas instituições financeiras notificassem a intenção de declarar vencimento imediato das dívidas, o que poderia desencadear uma cascata de execuções de garantias.

Reação do mercado e crise de confiança

Reação do mercado e crise de confiança

Ao saber da proteção judicial, o mercado reagiu com agressividade. As ações da Ambipar despencaram mais de 50% nas primeiras horas de negociação, recuperando parcialmente até registrar queda de 25,45% às 15h05. Os debêntures da empresa, por sua vez, foram negociados a apenas 13% do valor nominal, refletindo o medo dos investidores.

Ao mesmo tempo, a empresa tem enfrentado um esgotamento de confiança interno. Nos últimos dias, executivos de alto escalão deixaram o grupo, entre eles o CFO João Arruda, que pediu demissão na terça‑feira. Analistas atribuem a onda de saídas a dúvidas sobre a governança corporativa e o manejo de riscos financeiros.

Próximos passos e possíveis desdobramentos

Com a proteção judicial em vigor, a Ambipar tem até o final de outubro para apresentar um plano de negociação a credores. O objetivo é buscar acordos que evitem a entrada formal em recuperação judicial, preservando a operação e os ativos da companhia.

Advogados da empresa, Galdino Advogados e Salomão Advogados, afirmam que as discussões já estão em curso e que a medida serve para “garantir a continuidade dos negócios enquanto se busca uma solução viável”.

Se as negociações falharem, a empresa poderá ser encaminhada à recuperação judicial, um processo mais longo e público, que normalmente inclui a intervenção de administradores judiciais e a reestruturação de dívidas sob supervisão do tribunal.

Enquanto isso, investidores e analistas acompanham atentamente os desdobramentos. A volatilidade das ações e dos títulos deve permanecer alta, já que qualquer notícia sobre acordos ou novos pedidos de garantias pode mover o preço de forma brusca.

O caso também reacende o debate sobre a gestão de derivados em empresas que atuam em setores regulados, como o de meio ambiente. Muitos questionam se a estratégia de hedging adotada pela Ambipar foi adequada ou se expôs a companhia a riscos excessivos.