
Quando alguém fala em "lavar" dinheiro, não está falando de sabão, mas de transformar dinheiro sujo em algo “limpo” para poder usar sem chamar atenção. É um jeito de esconder a origem ilícita de recursos – seja de tráfico, corrupção, fraude ou outros crimes. O objetivo é fazer parecer que o dinheiro vem de uma fonte legítima.
Na prática, a lavagem acontece em três passos: colocação, onde o dinheiro entra no sistema financeiro; estratificação, que envolve múltiplas transações para confundir a trilha; e integração, quando o valor já parece legal e pode ser usado livremente. Cada etapa pode usar bancos, empresas de fachada, imóveis, criptomoedas ou até jogos de azar.
Imagine um traficante que vende drogas e recebe grandes quantias em dinheiro vivo. Ele pode comprar um bar ou restaurante, colocar o dinheiro como receita do negócio e, depois, retirar os lucros como se fossem vendas normais. Outro exemplo comum é usar empresas de importação/exportação: o produto tem preço inflacionado, o valor pago cobre o dinheiro sujo e o resto volta ao criminoso como lucro aparente.
Nos últimos anos, as criptomoedas abriram novas portas. Hackers roubam moedas digitais e, através de “mixers” (serviços que misturam várias transações), conseguem dificultar ainda mais o rastreamento. Por isso, autoridades fiscais e policiais estão investindo em tecnologia para analisar blockchain e identificar padrões suspeitos.
No Brasil, a Lei nº 9.613/1998 define os crimes de lavagem de dinheiro e estabelece multas potentes. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) monitora operações suspeitas de bancos, corretoras e casas de câmbio. Se uma transação ultrapassa certos valores ou apresenta indícios de irregularidade, a instituição deve comunicar ao Coaf.
Além disso, o Marco Legal Anti‑Corrupção (Lei nº 12.846/2013) cria responsabilidade objetiva para empresas que deixam de adotar políticas de compliance. Isso incentiva a implantação de programas internos de prevenção, como treinamento de funcionários, auditorias periódicas e canais de denúncia.
Para o cidadão comum, ficar atento a algumas pistas pode ajudar a identificar tentativas de lavagem: ofertas de investimento que prometem retornos muito acima do mercado, pedidos de transferência para contas no exterior sem explicação clara, ou empresas que não têm atividade palpável, mas movimentam muito dinheiro.
Se você receber um convite assim, verifique a procedência, consulte o site da Receita Federal ou procure ajuda de um advogado especializado. Não vale arriscar seu patrimônio nem se envolver sem saber de onde vem o dinheiro.
Em resumo, a lavagem de dinheiro é um crime complexo que usa a criatividade dos criminosos para camuflar recursos ilícitos. O Brasil tem um conjunto de leis e órgãos de controle, mas a eficácia depende também da participação de empresas e indivíduos, que precisam adotar práticas de compliance e denunciar suspeitas. Fique alerta, informe-se e não dê chance para quem tenta “limpar” o que é sujo.